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Morre Charles Stanley, pregador do ministério "In Touch" que liderava com fé obstinada

O pastor da Primeira Igreja Batista de Atlanta vivia de acordo com o lema “Obedeça a Deus e deixe que ele lide com as consequências”.
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Morre Charles Stanley, pregador do ministério "In Touch" que liderava com fé obstinada
Image: Illustration by Christianity Today / Source Images: Courtesy of In Touch Ministries
Charles Stanley

Certa vez, Charles Stanley levou um soco no rosto por causa de sua igreja. O pastor de longa data e pregador frequentemente elogiado, que morreu nesta terça-feira (18) aos 90 anos, lutou muito para liderar sua congregação batista do Sul, conquistando reputação por sua fiel obstinação, seu compromisso de seguir a vontade de Deus e sua vida de oração devota.

Frequentemente repetia seu lema de vida, que aprendeu com seu avô: “Obedeça a Deus e deixe que ele lide com as consequências”. Esse tipo de obediência não viria sem um custo, dizia Stanley, mas Deus recompensa a fé obstinada.

“Meu avô me disse: ‘Charles, se Deus disser para você atravessar de cabeça um muro de tijolos, corra para o muro’”, escreveu ele em suas memórias, publicadas em 2016 , “‘e quando você chegar lá, Deus fará um buraco para você atravessar.’”

Stanley foi o pastor da Primeira Igreja Batista de Atlanta por 51 anos. Ele começou como ministro adjunto, em 1969, quando a megaigreja tinha 5 mil membros, e permaneceu no púlpito até 2020, quando tinha cerca de 15 mil membros. Ele também pregava diariamente no rádio e na televisão, por meio do In Touch Ministries [Ministério em Contato], que fundou em 1972; Stanley foi amplamente considerado um dos melhores pregadores de sua geração, junto com Charles Swindoll e Billy Graham.

O filho de Stanley, Andy, também é pastor de uma megaigreja em Atlanta e pregador muito elogiado. Eles foram a única dupla de pai e filho a figurar nas listas dos pregadores vivos mais influentes, da Lifeway Research ou do Seminário Teológico George W. Truett.

Stanley foi membro fundador da Moral Majority e da Christian Coalition, serviu como presidente da Convenção Batista do Sul em um momento crucial da luta entre conservadores e moderados, e escreveu mais de 50 livros.

O futuro pregador nasceu em 1932 em Dry Fork, Virgínia, cidade que mais tarde ele diria ser tão pequena que não estava no mapa. Seu pai, também chamado Charles, morreu quando Stanley tinha apenas nove meses.

Sua mãe, Rebecca Hardy Stanley, conseguiu um emprego em uma fábrica têxtil, no meio da Grande Depressão, e ganhava cerca de 45 reais por semana. Quando não estava trabalhando, levava o filho a uma igreja pentecostal e o ensinava a ler a Bíblia e a orar.

“Ainda posso ouvir a voz dela citando meu nome para Deus e dizendo a ele que ela queria que eu o seguisse em tudo o que ele me chamasse para fazer”, contava Stanley.

Aos 12 anos, Stanley aceitou Jesus como seu Salvador. Dois anos depois, ele discerniu seu chamado para pregar e se dedicou ao ministério.

Rebecca se casou de novo, quando Stanley era adolescente. Seu segundo marido era alcoólatra e abusivo. O jovem Stanley tentou enfrentar o padrasto, chegando a apontar uma faca para ele certa vez. Ele implorou à mãe que se divorciasse, mas ela permaneceu comprometida com a união, por causa de sua fé.

O fato de ter sofrido com a violência teve um impacto para o resto da vida de Stanley, lembrou ele mais tarde.

“A menos que eu estivesse no comando, eu ficava muito, muito desconfortável”, disse ele. “Eu era muito, extremamente combativo e competitivo. Tanto que eu trouxe para meu ministério o espírito de sobrevivência. Ou você faz ou você morre. Faça o que for necessário para vencer. não importa o que seja”.

Stanley frequentou a Universidade de Richmond com uma bolsa de estudos, pela qual sua mãe orou. Na universidade, ele conheceu e se casou com Anna Margaret Johnson, estudante do curso de artes, que era da Carolina do Norte. Eles se casaram em 1955.

Depois de se formar no Southwestern Baptist Theological Seminary, Stanley assumiu uma igreja batista no estado natal de sua esposa, pregando na Fruitland Baptist Church e ensinando no Fruitland Baptist Bible Institute (que agora é um College). Ele se mudou para Fairborn, no estado de Ohio; Miami, na Flórida; e Bartow, também na Flórida, antes de aceitar o chamado para ser ministro associado na proeminente megaigreja batista no centro de Atlanta, em 1969.

Dois anos depois, o pastor sênior renunciou e Stanley foi convidado a assumir a função até que um substituto pudesse ser encontrado. Ele próprio se candidatou ao cargo, mas o placar do comitê responsável pela busca foi de 5 votos contra ele e 2 a favor.

À medida que a busca prosseguia, no entanto, a frequência aos domingos começou a aumentar, as ofertas começaram a aumentar e um número crescente de membros da igreja sugeriu que Stanley deveria assumir o pastorado. Vários diáconos — sutilmente, e depois não tão sutilmente — pressionaram Stanley a renunciar.

Stanley se recusou a ceder à pressão.

“As pessoas queriam se livrar de mim”, disse ele. “Mas não podiam me dizer o motivo. Elas simplesmente disseram que eu apenas pregava sobre como ser salvo, a vinda de Jesus e como ser cheio do Espírito Santo. Eu ri e pensei: Bom Deus, espero que isso seja verdade!

Stanley provocou mais conflitos, quando removeu alguns professores da escola dominical apesar das objeções do superintendente da escola dominical, que disse que o pastor não tinha autoridade para tomar essa decisão.

Um diácono condenou a “busca declarada pelo poder” de Stanley, de acordo com o relatório da Constituição de Atlanta, e vários líderes disseram que estavam “inquietos” com a “paixão desordenada do pastor pelo poder político” e com sua “confiança extravagante quanto à sua compreensão da vontade de Deus.”

Em uma acalorada reunião da igreja, um dos membros do conselho da igreja deixou escapar um palavrão.

Stanley disse: “Agora você precisa tomar cuidado com aquilo que você fala”.

O membro do conselho retrucou: “Não, é você quem precisa tomar cuidado”, e então deu-lhe um soco, acertando o rosto de Stanley.

Andy, que tinha 13 anos na época, estava assistindo de um dos bancos da frente da igreja. Ele disse que o pai sequer vacilou, quando foi atingido. Ele também não revidou, conquistando uma vitória moral e ganhando a discussão.

“Eu vi meu pai oferecer a outra face”, escreveu mais tarde o jovem Stanley, “mas ele nunca virou as costas e fugiu”.

Quando os membros da igreja fizeram uma reunião de três horas, para decidir se manteriam Stanley, a maioria votou sim. A igreja, então, votou para fazer de Stanley o pastor sênior.

Ele esperou uma semana para anunciar se aceitaria ou não o cargo. Trinta e seis dos 59 diáconos da Primeira Batista renunciaram.

Stanley trouxe essa mesma tenacidade para a Convenção Batista do Sul, quando foi eleito presidente, em 1984. Seus partidários esperavam que ele fosse a pessoa que resolveria a briga entre conservadores e moderados na denominação. Seus oponentes temiam o mesmo — e teve até um presidente de seminário que conclamou uma “guerra santa” contra os conservadores, inclusive contra Stanley, que insistia em mais uniformidade teológica na denominação, em detrimento da autonomia congregacional.

Os conservadores disseram que estavam detendo um deslize liberal, especialmente nos seminários e nas organizações de políticas públicas da denominação. Em seu primeiro ano como presidente, Stanley apoiou medidas que impediam as congregações de ordenar mulheres. Na época, havia 13 pastoras na SBC e mais de 220 ordenadas.

No segundo ano, superando a oposição para ser reeleito com 55% dos votos, Stanley usou seu poder como presidente e sua habilidade em manobras legislativas a fim de nomear uma chapa de conservadores para importantes conselhos batistas.

A maior luta do ministério de Stanley, no entanto, foi para salvar seu casamento e para permanecer no púlpito, após o divórcio.

Anna Stanley pediu o divórcio em 1993, sem explicação e usando apenas as iniciais do casal, A.S. e C.S. A notícia se espalhou mesmo assim e causou alvoroço na Primeira Igreja Batista. A congregação nunca havia permitido que um homem divorciado servisse no ministério, e Stanley havia ensinado que homens divorciados ficavam desqualificados para o ministério.

Stanley anunciou do púlpito que o casal não estava se divorciando, mas estava separado e trabalhando em seu casamento. Anna alterou o processo uma semana depois, a fim de pedir a separação formal em vez do divórcio, e, então, desistiu do processo.

Ela entrou com novo pedido de divórcio em 1995.

“Estou consternada com a recusa de meu marido em aceitar o estado crítico de nosso casamento”, disse Anna Stanley em uma declaração ao Atlanta Constitution. “Em vez disso, ele fez repetidos anúncios do púlpito de que progressos estavam sendo feitos em direção à nossa reconciliação, quando, na verdade, era exatamente o oposto. Eu opto por não contribuir para esta mentira.”

Não havia alegações de infidelidade ou de comportamento imoral. Anna dizia que o marido há muito tempo deixara suas prioridades claras, e que ela não era uma delas.

Vários líderes da igreja — que agora tinham uma frequência semanal regular de cerca de 13 mil pessoas — quiseram que Stanley deixasse o cargo, ao menos temporariamente. Outros o pressionaram a renunciar. Um deles foi Andy Stanley, que estava pastoreando um campus satélite em rápido crescimento e era visto como o herdeiro aparente da Primeira Igreja Batista de Atlanta.

Anos depois, o jovem Stanley diria que só queria que seu pai se oferecesse para renunciar, e desse à igreja a chance de optar por manter seu amado pastor. De acordo com ele, depois que escutou a palavra “renunciar”, seu pai não ouviu mais nada.

Charles reagiu duramente e declarou que seu filho era um inimigo. Andy deixou a igreja, distanciando-se de seu pai, e fundando a North Point Community Church, uma megaigreja seeker-sensitive [sensível àqueles que buscam] que cresceria para mais de 40 mil pessoas.

O velho Stanley descreveu esse período como o mais difícil e solitário de sua vida.

“As primeiras vezes em que fui ao supermercado à noite sozinho, em que fiquei sozinho na casa vazia foram difíceis. Mas pensei: Ok, Deus, aqui estou ”, disse Stanley. “Minha esposa foi embora. Para um pastor, isso é um desastre. Serei demitido da igreja porque as pessoas sempre pensam o pior. Bem, minha igreja não fez isso. Eles disseram: ‘Veja bem, você esteve aqui quando precisamos de você. Agora somos nós que estaremos ao seu lado.’”

A igreja votou por manter Stanley, mesmo que a separação continuasse. Quando Anna pediu o divórcio pela terceira vez, em 2000, e conseguiu por fim ao casamento, um membro do conselho anunciou que Stanley continuaria como pastor sênior. A congregação respondeu à notícia batendo palmas, em pé.

Embora alguns líderes evangélicos tenham condenado a decisão de Stanley de continuar no ministério como um homem divorciado, dizendo que ele estava minando o testemunho moral dos evangélicos, pouco mudou na Primeira Igreja Batista de Atlanta. Se alguma coisa mudou, disse Stanley, foi que seu divórcio fez dele um ministro mais eficaz.

“Era Romanos 8.28. Deus sabia o que ele estava fazendo”, disse Stanley. “As pessoas diziam: ‘[Antes] Eu não conseguia ouvir você pregar. O que você sabe sobre solidão, mágoa, dor, sofrimento e perda? Agora, posso ouvi-lo porque agora sei que você sabe como me sinto.’”

Stanley se reconciliou com seu filho por meio de aconselhamento, e os dois pastores de megaigreja fizeram terapia juntos. O velho Stanley falou sobre a morte de seu pai, seu relacionamento traumático com o padrasto e sua necessidade de manter o controle. Ele convidou Andy para pregar na Primeira Igreja Batista de Atlanta, em 2007. O sermão do Stanley mais jovem tratava de um tema familiar: “O custo de seguir a Cristo”.

A pregação de Charles Stanley foi amplamente elogiada em seus últimos anos, especialmente por sua simplicidade, praticidade e eficácia. Ele também falava com frequência da importância da oração e de sua própria prática de se ajoelhar diariamente para falar com Deus.

“Para mim, esse é o segredo”, disse ele à Christianity Today . “É o segredo para tudo. Pois, ao se ajoelhar, você está reconhecendo a Deus — você está afirmando que precisa de sua ajuda, sua percepção, sua compreensão, ou de sua coragem, ou sua fé, seja lá o que for”.

Quando lhe perguntavam que conselho daria a seus netos, se eles entrassem para o ministério, ou o que ele escreveria em sua lápide quando morresse, Stanley voltava ao lema sobre fé inabalável: “Obedeça a Deus e deixe que ele lide com as consequências.”

Ele deixa o filho, Andy; a filha, Becky Stanley Brodersen; e seis netos. Anna Stanley morreu em 2014.

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