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Como duas megaigrejas da Califórnia continuaram com os cultos

John MacArthur se posiciona contra a regulamentação, enquanto Greg Laurie encontra maneiras criativas de obedecer.
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Como duas megaigrejas da Califórnia continuaram com os cultos
Image: Edits by Mallory Rentsch / Source Image: Courtesy of Grace Community Church / Harvest Christian Fellowship Photo by Nicole Shanks

Duas igrejas da Califórnia estavam tão ansiosas para se reunir no último fim de semana que, quando seus cultos começaram, os fiéis explodiram em aplausos.

Em Sun Valley, os fiéis que enchiam o santuário de 3.500 lugares da Grace Community Church se levantaram e aplaudiram, alguns documentando o momento com seus iPhones, quando o pastor John MacArthur dava início à segunda semana consecutiva de cultos presenciais.

MacArthur - que se posicionou abertamente contra as igrejas que se submetem aos regulamentos governamentais acerca de cultos - disse que esse domingo foi “um dia muito especial para uma alegria mais abundante”, já que a congregação estava reunida presencialmente mais uma vez.

O pregador da Grace to You recebeu tanta atenção em razão de por sua postura - da postagem viral dos presbíteros no site da igreja a um segmento no programa Fox News de Tucker Carlson - que a igreja precisou adicionar mil cadeiras em espaços ao ar livre. Antes da pandemia, a soma dos frequentadores dos três cultos da igreja era, em média, de 8.000 pessoas. No domingo, a maioria dos participantes não estava usando máscaras, distanciamento social ou evitando contato. Como MacArthur disse a Carlson, eles “não compraram a narrativa”.

A congregação cantou “We Gather Together”, que MacArthur apontou ter sido escrita quando protestantes holandeses se reuniam para ir à igreja apesar de terem sido proibidos por seu rei. MacArthur pregou sobre o papel de Jesus como divisor e juiz, dizendo que, nos últimos meses, “Nunca ouvi tantas pessoas falando sobre a morte em um nível tão superficial. Você está falando sobre eternidade, inferno eterno ou céu eterno. ”

A uma hora de distância, em Riverside, Califórnia, os fiéis da Harvest Christian Fellowship foram recebidos com cartazes chamativos, em rosa e roxo, que diziam: “Sorria com os olhos (e use uma máscara)” e “Deixe espaço para sua Bíblia - e mais 1,5 metro.” Foi no terceiro domingo que Harvest se reuniu em uma tenda branca com metade do tamanho de um campo de futebol a fim de cumprir as ordens do estado, que restringiam o culto em locais fechados. Após a primeira semana de reunião sob a tenda, o pastor Greg Laurie disse: “Nossa igreja adorou”, então Harvest acrescentou um segundo culto matinal.

Ontem, voluntários escanearam as testas dos participantes com termômetros infravermelhos para medir a temperatura antes que entrassem na tenda, onde fileiras de seis cadeiras estavam espaçadas cerca de dois metros umas das outras. O uso de máscaras era obrigatório - embora, como em muitos lugares, nem todos as usassem adequadamente - e os sinais direcionavam os adoradores ansiosos a acenar em vez de tocar uns nos outros.

Laurie, líder de longa data da Calvary Chapel, cuja congregação de 15.000 membros aderiu à Convenção Batista do Sul há alguns anos, discutiu em seu sermão sobre como as pessoas tendem a responder à pandemia, à economia e à agitação social com raiva e frustração. Ele citou o debate sobre as máscaras como um exemplo de divisões. Ele disse à multidão: “Durante esta pandemia, Deus quer usar você. As pessoas estão com raiva e medo, portanto, você precisa procurar oportunidades para compartilhar o amor de Jesus onde quer que vá.”

MacArthur e Laurie lideraram suas respectivas congregações por cerca de 50 anos, à medida que se tornaram duas das maiores megaigrejas da Califórnia e seus ministérios se multiplicaram. Embora os cultos da Grace e da Harvest sempre tenham sido muito diferentes - ternos e música de órgão versus camisetas havaianas e bandas de louvor -, o contraste aumenta à medida que ambos encontram maneiras de adorar pessoalmente durante a pandemia do coronavírus.

Para muitos cristãos, a maneira como as igrejas se reúnem durante a pandemia não é apenas uma questão de estilo ou estrutura. Essas decisões refletem sua teologia, com líderes explicitando suas prioridades como igreja e o que eles acreditam que Deus deseja que façam em resposta às circunstâncias atuais.

A Califórnia reeditou as diretivas de confinamento no mês passado, enquanto o vírus se recuperava, ordenando que os locais de culto “interrompessem as atividades de canto e entoação em ambientes fechados e limitassem a participação em ambientes fechados a 25 por cento da capacidade de construção ou um máximo de 100 participantes, o que for menor.” Como aconteceu em Nevada, algumas igrejas entraram com processos, dizendo que a proibição é inconstitucional.

Os líderes da Grace se opuseram à ordem de ficar em casa, na Califórnia, enquanto ela se estendia até a primavera, mas concordaram em “se submeter aos propósitos soberanos de Deus” e permanecer on-line. Mas, algumas semanas atrás, sob os novos regulamentos e após 21 semanas de cancelamento de cultos normais, a resposta deles mudou. Os presbíteros de MacArthur e Grace postaram um texto com 2.200 palavras, “Caso Bíblico para o Dever da Igreja de Permanecer Aberto.

Em uma semana, 21.000 pessoas assinaram a declaração, concordando que “a honra que devemos justamente aos nossos governadores e magistrados terrestres (Rm 13.7) não inclui o cumprimento quando tais oficiais tentam subverter a sã doutrina, corromper a moralidade bíblica, praticar autoridade eclesiástica ou suplantar Cristo como cabeça da igreja de qualquer outra forma.”

Jonathan Leeman, um batista do sul que escreveu vários livros sobre fé e política, levantou preocupações em um post para a 9Marks, dizendo que a declaração de Grace não deixa muito espaço para líderes cristãos fiéis chegarem a outras conclusões para as próprias igrejas. “Diga: ‘Somos livres para fazer isso’ o quanto quiser”, disse Leeman. “Mas tome muito cuidado antes de dizer: ‘E você também tem de fazer isso’. Não sacrifique nossa liberdade espiritual por sua liberdade política.”

MacArthur, que tem 81 anos e comemorou 50 anos de ministério no ano passado, se preocupa que o nível de receio dos americanos com sua saúde física durante o COVID-19 tenha se tornado um prejuízo para sua saúde espiritual - e essa última determina seu destino eterno. O Grupo Barna descobriu que 1 em cada 3 cristãos praticantes parou de ir à igreja de qualquer forma durante a pandemia.

Ele expressou sua frustração com quão poucas grandes igrejas continuam a se reunir, apesar das regulamentações estaduais ou dos riscos do coronavírus. “Grandes igrejas ficarão fechadas até janeiro”, disse ele em sua atualização na sexta-feira. “Eu não tenho nenhuma maneira de entender isso a não ser que eles não sabem o que é uma igreja.”

A Igreja da Comunidade North Point, de Andy Stanley, com 38.000 participantes na área de Atlanta, foi a primeira grande megaigreja a adiar as reuniões de adoração aos domingos em seu prédio até 2021, embora a igreja ainda se reúna em grupos menores e pessoais que podem praticar o distanciamento social. A Igreja Summit, de 12.000 membros, de JD Greear, na Carolina do Norte, fez a transição para um modelo de igreja doméstica pelo restante do ano. A proporção de pastores que não preveem retornar às reuniões presenciais normais em 2020 saltou de 5%, no início de julho, para 12% na semana passada, de acordo com o Barna.

Durante o sermão de domingo, MacArthur sugeriu que as igrejas que fecham não são verdadeiras. “Nunca houve um tempo em que o mundo não precisasse da mensagem da verdadeira igreja”, disse ele. “Eu tenho de dizer ‘verdadeira igreja.’ Odeio pensar nisso, mas existem tantas formas falsas de igreja. Deixe-os fechar.”

A congregação riu e depois aplaudiu.

Alguns críticos questionaram por que a Grace Church não se reunia externamente ou ajustava suas reuniões internas para atender às diretrizes do departamento de saúde, em vez de recorrer a uma forma de desobediência civil. Outros mencionaram o risco de infecção, uma vez que os especialistas sugerem que os contextos religiosos, particularmente com grandes multidões que não praticam o distanciamento social, são muito suscetíveis, e se tornaram responsáveis por vários surtos recentes.

“Dadas as explosões em alguns lugares, as igrejas que reabriram têm seguido, em muitos casos, alguns padrões rígidos, mas, ao mesmo tempo, isso é suficiente?” O diretor executivo da LifeWay Research, Scott McConnell, disse ao Religion News Service (RNS), observando uma queda recente nas reaberturas de igrejas da Califórnia como casos de pico. “Acho que essas perguntas serão cada vez mais feitas.”

Phil Johnson, diretor executivo do ministério Grace to You, de MacArthur, disse em um tweet que mover as reuniões ao ar livre para cumprir os regulamentos do estado não era uma opção para a Grace devido ao tamanho da congregação e ao calor da Califórnia. Ele também disse: “você não precisa fechar a igreja inteira” só porque as pessoas podem pegar uma doença.

Laurie, cuja igreja pegou emprestada uma tenda gigante do evangelista Nick Vujicic para seu recente local de cultos, vê o cenário ao ar livre como “nossa mais nova resposta para manter as pessoas seguras na Califórnia”.

“Não precisamos ficar ao sol e fomos facilmente capazes de sentar em grupos distantes e ainda nos sentirmos como uma grande família feliz”, disse Laurie à CT. Os cartazes no culto reconheceram a mudança com uma atitude otimista: “Mesma Igreja. Nova Mensagem. Nova experiência.”

Laurie, 67, viu o lado bom dos ajustes promovidos pela pandemia desde o início. Ele celebrou o “despertar espiritual” que ocorreu on-line, à medida que mais espectadores acessavam as transmissões ao vivo de seus sermões. Um deles foi o presidente Donald Trump, e Harvest recebeu um aumento adicional no número de telespectadores quando Trump tuitou que assistia ao culto do Domingo de Ramos. (Laurie pertence ao conselho consultivo evangélico do presidente.) Até hoje, Harvest recebeu 80.000 profissões de fé on-line e enviou Bíblias para um quarto dos novos convertidos que se juntaram pela internet.

Laurie compartilha preocupações sobre igrejas fechadas com outros evangélicos. Ele disse acreditar que a igreja local não pode ser substituída pelo culto on-line e teme que o governo exagere na regulamentação do culto durante a pandemia. No entanto, ele também se manifestou contra mitigar o impacto do vírus.

“Vou ser honesto com você”, disse Laurie ao Los Angeles Times em abril. “Uma das coisas que me irritam é a maneira como algumas pessoas não estão respondendo de maneira adequada à ameaça real do coronavírus. […] Às vezes, elas estão simplesmente ignorando a situação, como se isso não nos tivesse sido pedido, e acho que devemos ter consideração pelos outros”.

Companheiros pastores do sul da Califórnia sugeriram que o fato de os líderes verem o coronavírus como uma ameaça contínua geralmente determina o nível de precauções que eles tomarão nas reuniões. A perspectiva tornou-se cada vez mais politizada, e o número de apoiadores de Trump que afirmam estar preocupados com as taxas de infecção e morte pelo vírus representam a metade dos que são críticos ao presidente e afirmam a mesma coisa.

Na primavera, Laurie tentou convencer os pastores a encerrar os cultos presenciais à medida que o coronavírus se espalhava. “Sei que você pode ver isso como um ato de grande fé, mas acho que, de muitas maneiras, você está pondo o Senhor à prova, muito mais do que confiando nele”, disse ele em um artigo do Wall Street Journal.

O pastor e reavivalista da Harvest também permanece sensível a como o coronavírus está se transformando em outra questão, gerando divisão e desacordo entre o corpo de Cristo. “Quando os cristãos se amam, eles são uma testemunha poderosa. Mas quando estão zangados uns com os outros, dão um testemunho fraco”, disse ele na mensagem de domingo. “O que precisamos agora é de menos indignação e mais proclamação do evangelho.”

Em uma pesquisa da LifeWay Research divulgada na semana passada, mais de um quarto dos pastores (27%) disseram que manter a unidade em meio a conflitos sobre a reabertura foi uma das maiores pressões que enfrentaram. Eles se preocupavam com a politização do uso de máscaras e o distanciamento social e como os diferentes membros de sua congregação se viam como resultado dessas medidas.

MacArthur reconheceu na sexta-feira que há membros da igreja que podem não se sentir confortáveis em reuniões internas ou podem querer usar máscaras e praticar distanciamento social. “Nós amamos você da mesma forma ao fazer as coisas que se sente mais seguro em fazer”, disse MacArthur, observando que máscaras e água seriam fornecidas nos novos assentos ao ar livre, onde a transmissão ao vivo foi projetada fora de um prédio do seminário.

Na maioria dos casos, os cristãos que temem que seu direito de adorar livremente esteja sendo retirado acreditam que este não é o momento para ser belicoso. MacArthur defende a decisão da Igreja de reabrir o suficiente para que esteja disposto a arriscar as ramificações legais ou buscar uma batalha legal, disse ele.

O Departamento de Saúde Pública do Condado de Los Angeles está investigando a Grace Church por não cumprir suas restrições ao culto e canto em ambientes fechados. “Estamos investigando relatos de que os serviços foram realizados em ambientes fechados”, disse o departamento em comunicado à CT na segunda-feira.

“Lembramos a todas as casas de culto, em consonância com outros setores empresariais que também tiveram de fechar as operações internas, que os serviços devem ser prestados ao ar livre ou virtualmente, apenas neste momento, devido aos níveis atuais de disseminação do COVID-19. Se os níveis de disseminação fossem muito melhores e o controle fosse sustentado, poderíamos voltar a reabrir operações internas limitadas para esses e potencialmente reabrir setores de negócios adicionais”.

[ This article is also available in English  See all of our Portuguese (Português) coverage. ]

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