Na infância, meus filhos tinham um livro sobre o Advento que contava a história do nascimento de Jesus. O livro ensinava a arte da espera. A cada noite, eles liam uma nova página. Hoje já adultos, eles ainda conseguem recitar o livro de cor. Só tenho um problema com esse livro: sua maneira de contar a história da dedicação de Jesus no templo apresenta Simeão, mas deixa de fora Ana, a profetisa.

Deuteronômio 19.15 decreta que uma questão “precisa ser confirmada pelo depoimento de duas ou três testemunhas”, tema que pode ser rastreado por toda a Bíblia. Precisamos tanto de Simeão quanto de Ana em nosso imaginário do Advento, porque ambos foram colocados lá para estabelecer um testemunho confiável. Juntos, eles atestam o cumprimento da promessa de Deus, uma promessa feita milhares de anos antes a outro homem e a outra mulher.

Considere a dupla que saúda o menino Jesus, 40 dias após seu nascimento, quando Maria e José o apresentam no templo. Em Lucas 2, Simeão é descrito como um homem “justo e piedoso [...] que esperava a consolação de Israel”, e que foi informado pelo Espírito Santo que ele “não morreria antes de ver o Cristo do Senhor”. Ana, “profetisa, filha de Fanuel”, atingira a idade avançada de 84 anos.

A idade dela é igual a sete vezes doze, simbolizando a plenitude divina. Começamos a ver que algo aconteceu no momento certo. O nome do pai dela foi apropriadamente tirado do local onde Jacó contemplou Deus face a face [a saber, Peniel, que é outra grafia do nome Fanuel] e, mesmo depois dessa experiência, continuou vivo (Gênesis 32.30). Um homem e uma mulher, esperando ansiosamente no templo de Deus para contemplar Deus face a face.

Agora, pense no mais antigo dos templos, o Jardim do Éden. Face a face com Deus, um homem e uma mulher testemunharam a profecia de um filho que esmagaria a cabeça da Serpente. Adão ouviu e deu um nome profético à mulher: Eva, mãe de todos os seres viventes. Eva ouviu e, após o trabalho de parto, proclamou: “Com o auxílio do Senhor tive um filho homem” (Gênesis 4.1).

A exclamação de Eva revela que nunca fomos bons em esperar, que o Advento sempre demorou mais do que esperávamos. As palavras dela comunicam menos a ideia de Olha, tive um filho! e mais a ideia de Aqui está ele! Como James Montgomery Boice observa em seu comentário, é a proclamação de um libertador. Embora você e eu saibamos que a espera seria de milênios, Eva não sabia. Ela esperava que Caim fosse o cumprimento imediato da promessa de Deus. Ela não poderia estar mais errada.

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Embora Adão e Eva não tenham podido viver para ver o Messias, Simeão e Ana não puderam morrer até que o vissem.

Em vez de ter sido alguém que deu vida, Caim foi alguém que tirou vida. Após o assassinato de Abel, Caim zombou: “Sou eu o responsável por meu irmão?” (Gênesis 4.9). Essa é uma pergunta erroneamente feita e erroneamente respondida — não apenas por Caim, mas por todos nós.

A espera pelo Messias continuou, ampliada pela tristeza do pecado que se difundiu. Adão e Eva envelheceram e morreram. Eles não viveram para testemunhar o cumprimento da promessa. Outra geração assumiu a espera.

Por séculos, no trabalho de parto, as mães hebreias que tiveram filhos teriam se perguntado: É este aquele que esperamos? Sara, Rebeca, Lia e Raquel, mães no Egito, mães no deserto, mães em Canaã, mães no exílio, mães nos 400 anos de silêncio, mães sob o domínio romano. As mães hebreias sussurravam: É este aquele que esperamos? Pais hebreus oravam: Envia-nos a consolação de Israel.

Até que finalmente aconteceu. No momento certo. E duas testemunhas aparecem no templo do Senhor, um homem e uma mulher, não para ouvir profecias, mas para proferi-las. Lá está Simeão, com lábios repletos de aclamação. Ele viveu para ver o dia. Lá está a idosa profetisa Ana, proclamando: Aqui está ele! Ela não poderia estar mais certa.

Aqui está aquele que não tira a vida, mas que a dá. Aqui está aquele que corretamente pergunta “Sou eu o responsável por meu irmão?”, e que responde: “EU SOU”. A espera acabou. Embora Adão e Eva não tenham podido viver para ver o Messias, Simeão e Ana não puderam morrer até que o vissem. Simeão, em sua velhice, foi consolado por Deus. Ana, em sua velhice, foi alegrada por Deus.

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Consolação. E alegria.

O testemunho de Simeão e de Ana no Advento nos exorta a aguardar com esperança cheia de expectativa. Aquele que promete é fiel. Ele virá novamente. E, naquele dia, todas as nações, tribos e línguas darão testemunho. Uma multidão verá a face de Deus e proclamará: “Aqui está ele!”

Jen Wilkin é esposa, mãe e professora de Bíblia. É autora de Women of the Word [Mulheres e a Palavra] e de None Like Him [Ninguém como ele]. Ela escreve no Twitter em @jenniferwilkin.

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