Atrifeta épica” com a Barbie, de Greta Gerwig, a turnê Renaissance, de Beyoncé e a turnê Eras, de Taylor Swift (todas arrecadando milhões de dólares) está tomando conta da mídia social — até mesmo com mulheres adultas revivendo sua juventude em um “Tween Girl Summer”.

Mas o entusiasmo e a participação não são menores entre o público jovem de fato.

Tanto meu filho de 18 anos quanto minha filha de 16 anos — apesar de nunca terem brincado com Barbies quando crianças e de estarem no extremo mais jovem da faixa etária de fãs da Taylor Swift — estão participando desses eventos.

Está sendo travado um diálogo cultural aqui sobre o “poder de compra das mulheres” e o “dólar feminino”, e há muito a ser dito sobre isso: Barbie, Swift e Beyoncé são enormes sucessos em termos de capital.

O filme Barbie e a turnê Eras de Swift, em particular, abrem um diálogo sobre o que Michelle Goldberg , no The New York Times, chama de “entretenimento que canaliza o anseio feminino”, despertando uma “mudança sísmica para as mulheres” ao “ajudá-l as a recuperarem os tempos de menina sem abrir mão do poder”.

Esses artefatos culturais fazem uso das ambiguidades da experiência feminina, celebrando o feminino ao mesmo tempo em que abordam, de forma honesta, as dificuldades de ser mulher em um mundo voltado para o sexo masculino. E, certamente, esses eventos são ocasiões para as mulheres curtirem tudo isso juntas.

Para mim, porém, quando tento enxergar este verão pelos olhos dos meus filhos, mais do que os dólares e o “anseio”, o que vejo é esse estar “juntos”e esperança.

A pandemia interrompeu a vida deles em um ponto crucial do seu desenvolvimento. Para essa geração, quase não há um “antes” da pandemia em sua adolescência — há apenas esse recém-inaugurado depois. E o que dizer se, nessa onda, o que meus filhos quiserem for um senso de comunidade — do tipo que deveria ser a marca de nossas igrejas locais?

Como apontou Justine McDaniel, o “verão Barbie-Taylor-Beyoncé oferece uma liberação das emoções pandêmicas” — e revela uma fome, segundo Goldberg, que é “um anseio palpável por deleite comunitário e catarse”.

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Hoje, há versões na igreja desse mesmo tipo de experiência musical que nos transporta e que é vivida por aqueles que assistem a shows como o de Taylor Swift — onde todos estão de pé, alguns com as mãos levantadas, outros com lágrimas no rosto. Muitos cristãos se mostram cínicos em relação a isso, mas os espectadores do show da Taylor Swift e do filme Barbie não são.

Experiências comunitárias impactantes podem ser manipuladas, mas não precisam ser manipulação. Quando uma música ou um filme diz a verdade, pode ser uma experiência alegre e até mesma transformadora.

Como Russell Moore escreveu recentemente, em resposta ao ceticismo em torno das experiências de adoração emocionais, “a mudança transformadora acontece em um nível muito mais profundo do que o intelecto ou a força de vontade”.

E em um mundo que viveu poucos eventos culturais de massa desde a COVID-19, meus filhos estão curtindo assistir ao filme da Barbie com amigos e viver esse sentimento de união no show da Taylor Swift. Eles estão curtindo se reunir para esses eventos e participar dessas celebrações femininas do que significa sermos humanos em conjunto.

Os cinemas estão cheios de famílias e de grupos de amigos, vestidos de rosa e rindo juntos; os maiores estádios do país estão lotados com apenas uma pequena fatia daqueles que teriam vindo para ver a apresentação de Swift, se houvesse mais ingressos disponíveis.

Taylor Swift está no topo das playlists tanto do meu filho quanto da minha filha. Quando a turnê deste verão foi anunciada, nossa família passou vários dias angustiada, em bilheterias online, tentando conseguir a chance de comprar ingressos para a turnê Eras. Fracassamos, mas uma amiga gentil conseguiu dois ingressos e levou minha filha com ela para o show.

A era COVID teve um grande peso na adolescência dos meus filhos — eles trocaram a escola presencial por horas de aula pelo Zoom, saídas com amigos por mensagens de texto solitárias e a igreja por um serviço de streaming assistido no sofá. Todas essas mudanças ainda parecem presentes.

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Agora eles têm fome de estar juntos. Estão ansiosos por eventos culturais compartilhados em grande escala e por usar roupas transadas em público.

Muitos em sua geração são cínicos, afetados pela pandemia e pela polarização cultural; portanto, talvez minha visão de como eles curtem o filme da Barbie e a Taylor Swift seja demasiadamente otimista. Quem sabe você me perdoará por ser tentada a esperar que seja precisamente essa experiência compartilhada de esperança em grupo o que os encanta.

Os jovens têm essa fome, mas não compactuam quando a igreja falha em dizer a verdade. Como Barbie e Swift, eles têm um olhar perspicaz e são bons em detectar um falso deus.

Sasha (Ariana Greenblatt) é a representante da geração deles no filme Barbie. Quando conhece Barbie (Margot Robbie), Sasha solta uma crítica adolescente severa, chamando Barbie de “fascista” e acusando-a de ser responsável por quase tudo de errado que acontece no mundo, especialmente tudo o que feito de errado em relação às mulheres.

Mas meus filhos parecem estar mais alinhados com a conversão de Sasha do que com sua denúncia — com a reconciliação dela com a mãe, bem como com uma versão ao estilo Barbie de celebrar o feminino.

“Gostei de como os Kens eram metáforas para as mulheres do mundo real”, disse meu filho.

E da minha filha eu escutei: “Não esperava que um filme da Barbie tratasse de um profundo sentido existencial.”

Meu filho não parece se incomodar com o lado feminino nesses eventos. Ele não está perdendo o sono com a suposta feminilização da cultura ou com a acusação de que o filme Barbie está rebaixando os homens. Ele nunca sequer ouviu falar da suposta feminilização da igreja, nem acho que chegou a cogitar que tal coisa possa ser uma ameaça para ele.

O que ele quer é estar com sua turma, ver um bom filme, ouvir boa música — ciente do que há de errado com este mundo, mas, talvez, esperando algo melhor.

Barbie é um filme cheio de temas teológicos e, embora eu não presuma conhecer sua fé, Swift expressou em público sua frustração com as formas como o cristianismo americano tem se associado à política partidária.

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E esse “sentido existencial” que minha filha notou no filme Barbie é sobre o que significa ser humano, o que significa viver uma boa vida juntos. O mesmo vale para muitas das letras mais inteligentes de Swift e para os sentimentos intrinsecamente humanos que afloram, quando são cantadas em voz alta.

Minha filha, que às vezes é mais reservada, ficou em pé, cantando a plenos pulmões, durante as três horas que Swift esteve no palco. Ela escolheu sua roupa com meses de antecedência — como uma homenagem a Swift, uma forma inserir seu corpo dentro do evento. E tirou fotos que diz que “vai guardar para sempre”.

Ela passou de uma era escolar marcada pela COVID-19, em que almoçava em uma mesa vazia e solitária, para levantar a voz no Soldier Field, em Chicago, junto com outras 55 mil pessoas que sabiam cada palavra da letra de cada música.

É claro que ela quer essa experiência de corpo inteiro, comunal e extática.

Barbie e Swift falam desse viver juntos a experiência de vida corporificada. Barbie (isso é um spoiler do filme) deixa seu mundo de plástico para trás e, nas palavras de Amy Peeler em seu artigo para o Holy Post, “assume um corpo real, inclusive com órgãos sexuais, experimenta a ‘involução’ do corpo [de boneca] e se torna uma mulher mortal. Ela faz isso para experimentar a beleza mais profunda da imperfeição.”

Katelyn Beaty escreve que o filme é uma afirmação da personificação feminina: “É por meio de nossos corpos” que “experimentamos tanto a graça comum quanto a sobrenatural”.

Swift também expõe a seus fãs sua própria vida, enquanto canta sem reservas sobre emoções, relacionamentos e perdas. Nós, seres humanos, somos criaturas que vivem em um corpo e precisamos viver juntos essa vida no corpo.

E isso é o que a igreja é. É viver juntos a vida no corpo, com pessoas reunidas em torno daquele que é a verdade, que dá sentido à vida, que conhece os anseios da nossa carne porque se fez carne por nós.

Os jovens querem esse senso de comunidade. por isso, continuarei esperando — esperando que, talvez, o que eles da fato queiram seja o corpo de Cristo.

Beth Felker Jones é professora de teologia no Northern Seminary. Ela é autora de muitos livros e escreve regularmente para o Church Blogmatics.

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