Muitas vezes começo a escrever uma música nova — ou mesmo algo tão comum quanto uma carta para um amigo — por ter visto uma centelha ou tido um vislumbre da renovação de Deus no mundo. De vez em quando, porém, tenho de enfrentar alguns falsos começos. Algumas sementes que plantamos parecem brotar da noite para o dia, enquanto outras levam tempo.

Grande parte da vida é assim. Recentemente, tínhamos planos de levar a família a um show da região. Eu esperava que aqueles ingressos representariam uma oportunidade de unir a família ou até mesmo [de criar] uma nova tradição. Mas eu tinha acabado de voltar de viagem e minhas suposições idealizadas de um feliz passeio anual foram por água abaixo, quando fomos todos puxados em direções diferentes: um membro da família precisava jantar; o outro não estava se sentindo bem; o terceiro tinha um acúmulo de tarefas da escola para fazer; o último tinha um evento escolar de última hora.

Estávamos na metade do caminho para o local, dirigindo debaixo de chuva, quando desistimos do show. Senti uma mistura de alívio e desapontamento, quando pegamos o caminho de volta para casa. Quando tornados logísticos como este entram em espiral, minha determinação enfraquece e meu compromisso vacila. Devemos seguir adiante e manter o plano? Ou devemos recuar para acudir as necessidades do momento?

Quando nossos planos se tornam um peso e nossos dias ficam excessivamente cheios, é fácil ficarmos atolados. Ficamos sobrecarregados e nos enredamos na indecisão, como se fosse areia movediça. Quanto mais tentamos sair dela, mais afundamos. Tentamos discernir quais planos fazer ou quais prioridades manter, reduzindo-os a algo parecido com uma equação matemática. Repartimos recursos entre nossos desejos conflitantes.

É uma abordagem lógica. Então, por que às vezes é tão difícil descobrir o que realmente importa?

Talvez seja porque — como costuma acontecer em momentos assim — nenhuma das opções dentre as quais estamos escolhendo seja a que realmente importa. “Uma coisa pedi ao Senhor, é o que procuro: que eu possa viver na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a bondade do Senhor e buscar sua orientação no seu templo.” (Sl 27.4, NVI).

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O Salmo 27 sopra sabedoria nos momentos ínfimos e sobrecarregados do nosso cotidiano. Surgem muitas coisas em um dia: um vazamento de água para consertar, uma conta médica que escapa do nosso controle, um cartão de aniversário para enviar. Mas nossas ansiedades podem nos manter reféns de ideias vagas, quando poderíamos estar dando passos ativos e criativos para realizar o belo plano que Deus tem para nós e para o seu mundo.

“Buscar sua orientação no seu templo” soa como uma grande ideia. Como faremos isso? Podemos começar por algo pequeno, talvez simplesmente com o ato de pararmos um momento para contemplar a beleza de Deus. Quando paro para refletir sobre o que Deus pode estar pensando hoje, neste momento, em tempo real, meus próprios pensamentos são reordenados. Minhas prioridades mudam.

O que Deus pensa sobre os planos que estamos fazendo para o jantar? O que ele pensa sobre a eleição local que se aproxima? O que ele percebeu na reunião de trabalho e sussurrou para mim, em meu espírito? Quem ele vê em meu círculo social hoje que pode ter passado despercebido aos meus olhos?

A intenção de perguntas desse tipo não é nos colocar em um estado de paralisia superespiritualizada. O propósito dessas perguntas é nos libertar de outras perguntas que nos fazem, e assim nos ajudar a desacelerar e a nos aquietar o suficiente para prestarmos atenção à presença de Deus.

Queremos gerar significado em nossas vidas, mas, às vezes, perdemos de vista a ideia central. Mesmo depois de anos praticando isso, às vezes ainda não reconheço qual é a melhor decisão, até chegar na metade do caminho para o lugar que estava indo e, então, fazer uma lacrimejante meia-volta.

Isso não significa simplesmente praticar atenção plena. Significa ser transformado pela beleza. Quando meu objetivo é o deleite, não me deixo levar tão facilmente pela distração. Se nos deleitarmos com os planos de Deus, e não com os nossos próprios planos, encontraremos resultados alternativos. Quando nos deleitamos com a beleza e a glória de Deus, podemos descansar quando precisarmos. Tomamos sua liberdade como se fosse nossa. Não precisamos ser escravos das exigências de nossos desejos ou de nossos relacionamentos. Ficamos com o espírito mais leve. A visão da glória de Deus transforma nossos próprios planos e ideias em um reflexo mais genuíno dos dele. Somos livres para ser mais do que “alguém ansioso por agradar os outros” ou que simplesmente apaga incêndios das urgências dos nossos dias.

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Quanto mais contemplamos a Deus, mais nossas vidas são iluminadas pelo brilho de sua glória. É como purpurina em uma sala de jardim da infância: sua glória está em toda parte. Ela fica, gruda e brilha, quando passamos tempo perto dele.

Sandra McCracken é cantora, compositora e autora em Nashville. Ela também é a apresentadora do podcast The Slow Work, produzido pela CT.

Tradução por Mariana Albuquerque

Edição por Marisa Lopes

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