Algumas das músicas mais populares que ouvimos em nossos feeds do Instagram e do TikTok são de Forrest Frank, um artista e produtor musical independente que ficou conhecido por suas canções alegres que viralizam na Internet.

Seu estilo pop é guiado por batidas e combina grooves vibrantes e refrões contagiantes em hits de sucesso como Up! e Good Day.

Frank foi o artista revelação com melhor classificação nas paradas cristãs da Billboard de 2023, e seu conselho para outros músicos cristãos é este: Façam boa música e o público virá.

O jovem de 28 anos encontrou um grande público ao combinar suas habilidades de produção, seu conhecimento de mídia social e uma abordagem colaborativa com sua arte de fazer música. Mas ele está confiante de que suas músicas sobem nas paradas do Spotify e são tendência nas plataformas sociais porque são boas músicas, não porque ele descobriu como hackear os algoritmos.

“Se o seu conteúdo não está indo bem, a música não é boa o suficiente”, disse o jovem de 28 anos no YTH Nation, um podcast do ministério de jovens da Elevation Church.

O músico, que mora na cidade de Waco, no Texas, e é formado pela Baylor University, é um dos integrantes da dupla popular Surfaces, e se uniu em colaborações com uma série de artistas cristãos populares, entre eles Elevation, Maverick City Music, Lecrae e Hulvey.

Uma temática comum do conteúdo de Forrest Frank nas mídias sociais é desfazer a percepção de que a música cristã é chata ou cafona, ou de que os jovens não ouvem música com letras religiosas.

Seu sucesso parece provar que há um grande segmento de cristãos da Geração Z que está em busca de música que fale abertamente e de forma assumida sobre Jesus.

Um de seus vídeos virais mostra Frank e Hulvey liderando em adoração uma multidão apaixonada de jovens adultos num show, com a legenda (sarcástica) Rap cristão não é adoração — acompanhada de um emoji chorando de rir —, enquanto os dois artistas e o público cantam a letra de sua música “Altar ”: Glórias ao Pai / Tu mereces o louvor / Leva-me ao teu altar / Lava a minha vergonha.

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Frank está convencido de que um grupo crescente de artistas cristãos tem potencial para atrair públicos que nem sequer estão à procura de música cristã.

“Da mesma forma que cristãos sacrificaram seus sistemas de valores para absorver a arte secular, penso que o que está por vir é que o mundo sacrificará os seus sistemas de valores para absorver a arte cristã”, disse ele.

Frank parece ver a si mesmo como um artista que atrai ouvintes que estão preocupados com o conteúdo da música secular, mas não tinham encontrado uma alternativa cristã boa o bastante para afastá-los [da música secular]. (Isso pode parecer uma crítica às gerações anteriores de artistas cristãos, mas o fato é que toda geração tem esse rito de passagem em que os ouvintes mais jovens percebem a música de seus pais como algo ultrapassado.)

A arte cristã — incluindo a música — tem moldado a cultura humana há milênios; mas Frank está olhando para o aqui e o agora. O que a Geração Z (e a Geração Alpha, mais velha) está procurando? E como os músicos cristãos podem oferecer algo novo, que desperte identificação e seja redentor?

Frank tem 4,1 milhões de seguidores em plataformas de mídia social. Em março, sua música Always se tornou, por um breve período, a música mais popular do Instagram. O lançamento do EP God Is Good, no mês passado, com a participação do artista cristão de hip-hop Caleb Gordon, já tem 2,1 milhões de streams no Spotify, e um reel com a dupla cantando a música já tem 1,2 milhão de visualizações.

“Uma música cristã está em 12º. lugar entre as que mais viralizaram na América no momento”, disse Frank, em um vídeopostado no Instagram, antes de começar a cantar o refrão de Good Day.

Em outro post, ele diz: “Uma música cristã é a música número 1, a que mais viralizou em todo o Brasil”, comemorando a popularidade de No Longer Bound, uma colaboração dele com Hulvey.

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De acordo com a Chartmetric, 16,3% dos ouvintes de Forrest Frank estão no Brasil; ele ocasionalmente traduz e reposta conteúdo em português, como uma espécie de homenagem aos seus fãs brasileiros.

“Conteúdo é uma forma de arte”, disse Frank ao Elevation YTH. “Tento ser gentil com meus espectadores. É como administrar um restaurante. Você não vai dizer só: ‘Olha, toma aqui o seu pedido’. Não, você diz: ‘Aqui está o prato perfeito que fiz para você. Espero que você ame.’”

Frank cresceu na igreja, rodeado de músicos — a sua mãe era líder de louvor e a sua avó escrevia músicas para crianças — mas ele não sonhava em se tornar um artista cristão ou mesmo em seguir uma carreira como intérprete.

Ele começou a tentar fazer música quando estava no ensino médio, depois de ver um artista no YouTube usando uma Maschine — uma estação de trabalho digital compacta, usada para gerar material de áudio melódico e percussivo usando teclas e botões — para criar as batidas. Ele comprou sua própria Maschine Mikro e ficou imediatamente viciado no processo de criação musical do tipo “faça você mesmo”. Na Baylor, trabalhava por horas, isolado de tudo, desenvolvendo suas habilidades como produtor e compositor.

Frank diz que começou a se distanciar de sua fé na faculdade, e aponta para uma experiência crucial que a reacendeu: uma decisão repentina de comparecer a uma noite de louvor e adoração em uma igreja.

“Eu me lembro de ter caído de joelhos, clamando a Jesus”, lembra Frank, ao contar a história para a Elevation YTH.

Depois de se formar, Frank conseguiu um emprego em um escritório e continuou a compor e a lançar músicas como hobby, esperando para ver se seu trabalho criativo encontraria um público. E encontrou; depois de cerca de um ano tentando gerenciar um emprego e uma carreira musical em aceleração, ele pediu demissão para se dedicar à música em tempo integral.

O sucesso de Frank como artista cristão é precedido pelo sucesso de Surfaces; a música Sunday Best alcançou a posição 19 na Billboard Hot 100, e a dupla colaborou com Elton John na música Learn to Fly, que integra o álbum The Lockdown Sessions do icônico cantor, produzido em 2020, durante a pandemia da COVID-19 .

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Em 2018, Frank lançou seu primeiro álbum solo, Warm, só com o nome Forrest. Foi apenas no último ano e meio que Frank se tornou um artista cristão conhecido como “Forrest Frank”.

Os ouvintes de hoje — de todos os gêneros e nichos — encontram grande parte da música que escutam online, mas nem todos os artistas conseguem utilizar plataformas digitais e tirar proveito dos algoritmos das redes sociais. Artistas como Frank parecem estar obtendo sucesso porque entendem o que seu público quer da música e, talvez algo que é tão importante quanto isso, também entendem o que o público quer fazer com ela.

“A maioria dos artistas que conheço realmente trava uma batalha com as redes sociais. Parece autopromoção”, disse Wisdom Moon, fundador do Lula Music Group, uma agência de consultoria e gestão de artistas cristãos.

“Você tem que encarar isso como um serviço ao seu público, dando-lhes algo que traz esperança, algo com o qual eles se identifiquem.”

As músicas viralizam no TikTok e no Instagram não só por serem cativantes (isso é parte do motivo), mas porque são úteis para serem usadas como música de fundo para conteúdo de outros criadores e seguidores.

“Os artistas têm de pensar em suas carreiras e se verem não apenas como músicos, mas também como criadores de conteúdo”, disse Moon, que também trabalhou para editoras musicais cristãs, como a Centricity e a Integrity.

E, para os artistas cristãos, a fé desempenha um papel no conteúdo com que contribuem e para o qual contribuem. Os que são mais bem-sucedidos se consideram cocriadores, ou seja, artistas que criam junto com seu público.

Músicas como Good Day e Up! são animadas e alegres, a faixa de fundo perfeita para um TikTok de férias na praia ou um vídeo do reel mostrando uma mulher em trabalho de parto natural, sem anestesia, com vibrações incrivelmente boas. Eles atendem a um público que deseja que a música possa marcar suas vidas, ou mesmo as vidas que eles desejam ter.

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Esta abordagem pragmática e consciente das mídias sociais para a produção musical pode parecer em desacordo com a visão missional que artistas cristãos como Frank articulam para sua música. Mas Moon destacou que os músicos cristãos populares sempre tiveram de navegar por esta tensão entre utilidade e testemunho.

As músicas cristãs há muito servem como trilha sonora inspiradora para jovens cristãos, à medida que constroem suas identidades. Ele relembrou seus dias no ministério de jovens, quando fazia vídeos com os pontos altos de viagens missionárias usando como música de fundo Hands and Feet, do Audio Adrenaline.

“O público cristão está procurando músicas que, ao mesmo tempo, falem a suas vidas e apontem para Jesus”, disse Moon. “A música cristã sempre teve de servir a um duplo propósito.”

As pessoas costumavam colocar suas trilhas sonoras pessoais em apresentações de slides de casamento e em montagens de fotos de formatura; hoje, porém, cada momento da vida pode ser acompanhado de uma música de fundo, nas plataformas de vídeo como TikTok e Instagram. Isso faz parte da forma como o público, incluindo os jovens cristãos, relaciona-se com a música hoje em dia.

Esse modelo do músico/criador de conteúdo abre portas para que artistas independentes como Frank construam uma carreira sem a interferência de uma gravadora (embora Frank tenha tido o privilégio de ser um músico de sucesso representado por uma gravadora, antes de embarcar em uma carreira solo como artista independente). Também incentiva os artistas a permitirem que seus ouvintes tenham acesso à sua vida pessoal, com o intuito de construir uma comunidade e conquistar seguidores. Frank abraçou esse modelo postando fotos de sua esposa, de seu filho e de sua casa, e ocasionalmente incorporando-as em seu conteúdo musical.

Como artista solo, Frank lançou uma quantidade impressionante de músicas em pouco tempo. Seu álbum de 2023, New Hymns, apresenta uma versão descontraída de Amazing Grace e uma participação especial do rapper Lecrae em Nothing but the Blood. Ele também lançou um álbum de Natal no ano passado, A Merry Lofi Christmas [o termo lofi, no título, é uma referência à música lofi, fruto de uma mistura de vários gêneros diferentes. Esses estilos distintos se unem para dar às faixas uma vibração descolada e descontraída]. O álbum apresenta vocais descontraídos de Frank em contraste com uma paisagem sonora mais aconchegante do que a de suas canções virais e dançantes como Up!, e traz solos de jazz com saxofone e metais.

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Em fevereiro, ele lançou um remix de Praises com a Elevation Rhythm. Em abril, lançou o EP God Is Good. Neste outono, vários de seus singles (Up!, God Is Good, Always e Good Day) viralizaram nas redes sociais.

Frank está empenhado em servir seu público, que é cada vez maior, mas diz que está aberto a qualquer coisa que Deus tenha para ele a seguir, seja continuar nessa trajetória ou fazer outra coisa (ele brinca, dizendo que se não tivesse conseguido fazer sucesso como músico, provavelmente teria se tornado um massoterapeuta ou um quiroprata).

“Se Deus me dissesse para deletar meu Spotify, eu faria isso agora mesmo. Se Deus me dissesse para deletar meu Instagram, eu obedeceria na mesma hora.”

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