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Primeira mulher assume a liderança da Sociedade Teológica Evangélica dos EUA

Karen Jobes, professora do Wheaton College, torna-se presidente uma década depois de um estudo revelar a existência de uma atmosfera “hostil e pouco receptiva” às mulheres.
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Primeira mulher assume a liderança da Sociedade Teológica Evangélica dos EUA
Image: Zondervan / YouTube screen grab
Karen Jobes

A Sociedade Teológica Evangélica (ETS, em inglês) nomeou sua primeira mulher presidente em 75 anos. Karen Jobes, professora emérita de Novo Testamento e exegese no Wheaton College, liderará a sociedade profissional de estudiosos da Bíblia e teólogos evangélicos em 2024.

A sua eleição marca um passo importante para uma associação que tem enfrentado críticas, ao longo dos anos, por causa da marginalização de mulheres. Em 2014, um estudo qualitativo sobre as experiências das mulheres nas reuniões da ETS, encomendado pela organização Cristãos pela Igualdade Bíblica (CBE, em inglês), revelou “uma atmosfera que parece hostil e pouco receptiva” às mulheres.

Jobes, que ingressou na ETS em 1989, relembrou suas próprias experiências nada agradáveis ​​na sociedade.

“Minhas primeiras lembranças das vindas à ETS são de que havia pouquíssimas mulheres. E a maioria dos homens presentes perguntava: ‘Bem, você é esposa de quem?’”, disse Jobes à CT, no encontro anual da ETS, realizado este ano em San Antonio. “Muita coisa aconteceu na igreja e em nosso mundo desde a década de 1980.”

Outras mulheres compartilham histórias semelhantes.

“Em algumas sessões, eu era a única mulher presente. Muito poucas mulheres apresentavam papers”, disse Carmen Joy Imes, professora de Antigo Testamento na Biola University. “Os homens me perguntavam: ‘Onde seu marido dá aulas?’, presumindo que eu estava lá como esposa de alguém, e não como acadêmica.”

A conferência deste ano, realizada em San Antonio, em conjunto com a reunião anual da Academia Americana de Religião e da Sociedade de Literatura Bíblica, testemunhou alguns dos mais altos níveis de participação de mulheres na história da sociedade.

Dos três oradores das plenárias, dois eram mulheres, algo que só aconteceu uma única vez antes na ETS. A plenária sobre “Teoria da Identidade de Gênero e Antropologia Cristã”, de Abigale Favale, professora da Universidade de Notre Dame, estava cheia de mulheres e homens presentes. Uma sessão sobre o novo livro — Women and the Gender of God[Mulheres e o Gênero de Deus] — de Amy Peeler, professora de Novo Testamento do Wheaton College, estava lotada.

Setenta e cinco mulheres apresentaram papers, entre elas Nancy Reyes Frazier, do Dallas Theological Seminary; Holly Mulherin Farrow, do Southwestern Baptist Theological Seminary; Kaitlyn Schiess, da Duke University e Heather Joy Zimmerman, do Wheaton College.

Outras 22 mulheres atuaram como painelistas ou moderadoras, durante o encontro de dois dias.

Cerca de 100 acadêmicas participaram de um evento de networking para mulheres, que já existe há cerca de seis anos.

“Já vi muitas mulheres virem para a ETS durante o seminário ou a pós-graduação e decidirem que não valia a pena frequentar [as reuniões], por causa das repetidas mensagens, algumas sutis e outras não tão sutis assim, de que elas não pertencem àquele lugar”, disse Imes à CT. “Eu mesma estava pensando em deixar a ETS… mas percebi que eu nunca havia dedicado toda a minha atenção para torná-la um lugar mais hospitaleiro para as mulheres.”

Esse evento começou como um grupo no Facebook para ajudar as mulheres a encontrarem colegas de quarto, com o intuito de reduzir custos de hospedagem nas reuniões da ETS e de permanecerem conectadas depois. Mas Imes disse que havia também um objetivo maior: “dar às mulheres uma razão para ficar” e “reduzir o êxodo feminino” [da ETS].

O grupo, que atualmente é dirigido pela professora de teologia do Carey Baptist College, Christa McKirland, com uma equipe de liderança, tem agora quase 600 membros. Também se organizou ativamente para eleger pessoas para o comitê de nomeação para a presidência. Este ano, o grupo apoiou Imes, a catedrática em Novo Testamento da Trinity Evangelical Divinity School, Dana Harris, e o professor de estudos bíblicos do Midwestern Baptist Theological Seminary, Andrew King.

“Enquanto antes éramos estudiosas isoladas, hoje apoiamos uns aos outros, compartilhamos dicas, torcemos por ofertas de livros, empoderamos a próxima geração e compartilhamos oportunidades. Já se foram os dias em que estudiosos do sexo masculino perguntavam onde meu marido leciona”, disse Sandra Glahn, professora do Seminário Teológico de Dallas e autora de Nobody’s Mother: Artemis of the Ephesians in Antiquity and the New Testament [Mãe de Ninguém: Artemis dos Efésios na Antiguidade e o Novo Testamento]. “E convidamos mulheres para a reunião de negócios.”

O esforço para incluir mais mulheres na ETS não foi liderado apenas por mulheres, os envolvidos se apressam em destacar. E dizem que muitos homens, entre eles alguns que são complementaristas, trabalharam para tornar a sociedade mais hospitaleira para as mulheres.

Jobes, em particular, cita dois ex-presidentes que abriram o caminho para sua eleição: Craig Keener, professor do Seminário Teológico de Asbury, e Daniel B. Wallace, professor do Seminário Teológico de Dallas.

Wallace, que era o presidente eleito quando foi publicado o estudo sobre as experiências das mulheres nas reuniões anuais da ETS, reuniu-se com as mulheres da ETS para tratar de questões relativas a sexismo e para trabalhar em prol de uma mudança. Jobes o chamou de aliado consistente.

“Reconheço e aprecio meus colegas do sexo masculino que apoiaram essa iniciativa, para que isso acontecesse”, disse ela. “Não é como se tudo tivesse acontecido de repente, do dia para a noite, neste ano ou no ano passado.”

Muitas mulheres na ETS dizem ter notado uma mudança significativa nos últimos cinco anos. Mas elas também dizem que são necessárias mais mudanças.

Atualmente, as mulheres representam apenas 6% dos membros da ETS, de acordo com Mimi Haddad, presidente e CEO da organizaçao Cristãos pela Igualdade Bíblica (CBE). Esse número não aumentou na última década. E embora o envolvimento na conferência deste ano tenha aumentado, as mulheres representaram menos de 10% dos preletores. Jobes continua a ser a única mulher no comitê executivo.

“Sinto-me muito mais esperançosa quanto ao rumo que a ETS está tomando. No entanto, é uma esperança cautelosa”, disse McKirland, autora de God’s Provision, Humanity’s Need [Provisão divina, necessidade humana]. “Sou muito grata pelas mulheres e pelos homens que passaram 75 anos investindo nesses brotos verdes. Minha esperança é que não sejam necessários mais 75 anos para que o jardim chegue à plena floração.”

Jobes, recém-empossada como presidente, disse que analisou a longa lista de nomes masculinos antes dela. Ela substitui Timothy George, da Beeson Divinity School, da Samford University. Outros ex-presidentes incluem o cofundador da Gospel Coalition, D. A. Carson; o presidente do Southern Baptist Theological Seminary, Albert Mohler; teólogos como Bruce Ware e Norman Geisler; o cofundador do Council on Biblical Manhood and Womanhood, Wayne Grudem; e os ex-editores da CT, Kenneth Kantzer, Carl F. H. Henry e Harold Lindsell.

“Não quero ser a primeira e a última, ou seja, a única mulher presidente da ETS”, disse Jobes. “Desde que Deus me chamou para o seminário, em 1987, minha visão para as mulheres na teologia e nos estudos bíblicos é que nos tornaríamos algo normal.”

[ This article is also available in English. See all of our Portuguese (Português) coverage. ]

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