Nota da edição em português: este artigo foi escrito em 2010, mas traz reflexões importantes para nós, hoje.

Na semana passada, em um café, uma completa estranha se sentiu encorajada a me mostrar um artigo do jornal local. Era um artigo sobre bonecas Barbie voltadas para a carreira. O Wall Street Journal (WSJ) relatava que uma pesquisa da época, feita no site da Mattel, pediu às pessoas que votassem em qual carreira deveria ter a próxima boneca Barbie [da coleção “Eu posso ser…”].

“A Mattel deu-lhes a opção de escolher entre as profissões de arquiteta, apresentadora de telejornal, engenheira da computação, ambientalista e cirurgiã”, relata o WSJ, que obteve mais de 600 mil votos durante um período de quatro semanas. “Garotas de todo o mundo votaram de forma esmagadora na versão apresentadora da Barbie […] Mas, no final da primeira semana, uma crescente onda de votos de adultos para a Barbie engenheira da computação superou a escolha popular. Engenheiras da computação que souberam da votação lançaram uma campanha viral na Internet, para obter votos e garantir que a Barbie se juntasse a elas. Ambas as bonecas foram produzidas e colocadas no site da Mattel.

A mulher gentil e excêntrica que brandia a página de jornal parecia muito mais entusiasmada com as novas aspirações de carreira da Barbie do que eu mesma; contudo, a história do WSJ sugere que muitas mulheres têm sentimentos fortes sobre o simbolismo da Barbie. O que há nessas bonecas que as mulheres tanto levam para o lado pessoal?

Talvez eu estivesse mais interessada se a carreira de Barbie refletisse mais de perto a minha. Em Ohio, uma sacerdotisa da igreja episcopal tomou recentemente esse assunto em suas próprias mãos, e criou uma versão sua da Barbie: a Reverenda da Alta Igreja. Embora ela não esteja à venda pela Mattel, esta Barbie lhe rendeu 6 mil amigos em sua página no Facebook e uma história contada pelo Religion News Service, na semana passada.

Meu primeiro pensamento, ao ler sobre a Reverenda Barbie, foi de hesitação quanto à ideia de encorajar meninas a “aspirarem” ao sacerdócio. Em vez de carreira, não é o sacerdócio um chamado?

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Então, pensei também que qualquer carreira que seguirmos deve ser ordenada por Deus, independentemente do campo em que se encontre. “Eu posso ser…” soa inspirador na superfície, mas sua desvantagem é que somente as aspirações de Deus irão satisfazer os desejos do nosso coração.

Naquele dia, no café, o artigo gerou uma conversa sobre o polêmico tema da Barbie no papel de modelo a ser seguido. “Por um momento, cheguei a pensar que ela estava falando sobre a Mattel fazer uma Barbie Barista”, eu disse a outra barista que estava ali.

“Ninguém acha que as meninas devem sonhar em ser baristas”, ela respondeu. Não discuti com ela, pois sabia que provavelmente estava certa. Mas isso é bobagem, porque, mesmo que não tenhamos um ícone na forma de uma boneca de plástico, é perfeitamente possível ter um impacto profundo nas pessoas ao seu redor, não importa o lugar que você esteja ou qual carreira tenha.

Há algo de atrativo em uma representação icônica de quem somos. Mas uma boneca de plástico só pode, evidentemente, representar as qualidades mais tangíveis: ela é definida pelo que faz (sua carreira) e por sua aparência (e muito já foi escrito sobre isso). Até mesmo a Reverenda Barbie é caracterizada apenas pelas ferramentas físicas de seu ofício: suas vestimentas e os itens de sua sacristia.

Ainda que não possa ser bem expressada em plástico, a vida cristã é definida em termos muito diferentes de “eu posso ser…”. Por exemplo: “Eu sou a justiça de Cristo” (1Coríntios 1.30). E “eu sou descendente de Abraão” (Gálatas 3.29). Nosso relacionamento com Deus não é um acessório de status. É bom saber que o padrão da Barbie é algo fabricado e que Jesus não espera que sejamos perfeitos para nos salvar.

Não podemos esperar que a Mattel represente a fé em plástico ou que encoraje as meninas a procurarem uma vocação que esteja além da carreira. No entanto, evidentemente, a Barbie continua a ter um impacto na cultura feminina e na imaginação infantil; portanto, eu me pergunto: De que maneira qualidades intangíveis, como fidelidade e sabedoria, conectam-se com os sonhos de meninas em serem mulheres adultas?

Alicia Cohn é escritora freelancer e mora em Denver. Seu twitter é @aliciacohn.

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